sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O que eu aprendi na minha primeira aula de Propedêutica

Talvez muitos não saibam, mas eu sou estudante de Medicina do 4º período. Daí que no 4º período é a primeira vez na vida médica que a gente tem contato direto com hospital, pacientes, doenças e mais todas as mazelas humanas, numa disciplina chamada Propedêutica (que numa explicação bem simples seria uma introdução à clínica médica). Enfim...

M.J.M., 89 anos, sexo feminino. A primeira coisa que eu aprendi com ela foi ouvir. Mesmo que a paciente queira contar das mangueiras e goiabeiras do seu quintal e dos passarinhos que por lá cantam, e te convidar pra ir na casa dela tomar uma cervejinha. Aprendi também a fazer uma anamnese (que é a entrevista com o paciente), a estabelecer uma boa relação médico-paciente e mais tudo que os livros trazem friamente nas suas páginas. Como se houvesse um manual de "Como conquistar a confiança do seu paciente em 10 passos". Hum, como se não precisasse de uma coisa chamada empatia, necessária pra que qualquer relação interpessoal seja satisfatória. 
Quando eu entrei pra Medicina com aquele pensamento romântico de Patch Adams (ainda sim, quero ser que nem ele!) eu não imaginava o quanto ia ser complexo. Não falo da Biofísica, Bioquímica, Fisiologia, Anatomia, dentre tantas outras disciplinas. Falo do sentimento, do psicológico, das dificuldades pessoais, das desilusões, daquele professor que você olha e diz "cara, como esse indivíduo tem coragem de dizer que é médico se ele não olha na minha cara nem pra responder uma pergunta?". Falo do nó na garganta que eu sinto quando eu vejo que cada vez mais se formam médicos medíocres. Aí eu volto ao meu pensamento romântico e prometo a mim mesma que eu não vou ser assim, que eu vou ser a melhor médica do mundo. E vou, embora tudo seja tão difícil e complexo. 
E não vou esquecer da coisa mais linda que eu aprendi na minha primeira aula de propedêutica, que não foi com nenhum dos meus professores, mas com uma paciente, a dona M.J.M.: "A gente não pode ser egoísta, porque a gente tá nesse mundo pra ajudarmos uns aos outros". 
Sábias palavras dona M.J.M. Sábias palavras.

Um comentário:

Priscila Rôde disse...

Entendo você, as coisas são mais dificeis quando sentimos na pele, de perto.
Tenho certeza que você fará diferença! Beijos