domingo, 26 de fevereiro de 2012

Eles II.


(Ou: "O que eu queria ter dito.")


"Porque você me faz andar sem rumo agora
Se não existe sentido pra nossa falta de destino?"
Fernanda Mello e Rogério Flausino.


- Eu queria dizer que a gente junto foi a pior coisa que eu fiz na vida.
- Mas por que isso, nega?
- Porque sim.
- Eu não acredito que você tá dizendo isso da gente.
Ele a olhava com uma cara de decepção. Ela o olhava com uma profundidade absurda, e fazia força pra não se render mais uma vez àqueles olhos que a decifravam tão bem.

- Digo sim. Eu achei que dar conta desse conto romântico pós-moderno, mas não consegui. Você me decepcionou. Você me fodeu de todas as formas que uma pessoa pode foder outra pessoa. E olha, não são poucas. Eu não consigo mais te ver com os mesmos olhos de antes, me entende?
Enquanto falava ela rezava pra todos os deuses pedindo que a impedissem de derramar uma lágrima que teimava em lhe escapar os olhos. Era difícil encará-lo sem pensar em tudo que viveram, as inocências, as confidências, as noites em claro, os lençóis embolados. Era tudo forte demais pra ser reprimido.

Ele ainda permaneceu calado por alguns minutos, segundos ou horas. Cada olhar que trocavam guardava uma infinidade de outras vidas. Respondeu, embargado:
- Eu não imaginava que você sentia tudo isso! Eu não entendo como tudo aquilo que tínhamos de bonito virou essa mágoa toda! Eu não aceito que você pense assim! Nós não somos isso!
- Não somos mesmo, meu bem. Nos tornamos isso tudo por uma tentativa frustrada da gente se dar mais do que a gente podia. Eu, pelo menos, não sou capaz de viver algo tão pequeno com você. Você sabe que não me contento com metades, quanto mais se tiver de ser só um pedaço teu.

Cada frase dela era um soco no estômago dele. Ele ficava sem defesa, sem argumentos, sem razão. Tinha sido um grande filho da puta com a mulher que mais passou tempo ao seu lado. Mas ao mesmo tempo não sabia como reverter tal feito. Além de querer reatar o sentimento bonito que tinham, queria também garantir  as boas e velhas fodas homéricas que tinham. (E você aí pensando que ele só tinha boas intenções.)
- Linda, me perdoa. Eu não queria ter te causado todo esse mal, eu não achava que fosse ser tão difícil pra você.
- Eu também não imaginava, mas também não esperava tanta falta de tato e falta de cuidado da sua parte.
- Me perdoa! Eu não vi que estava fazendo tudo isso com você. Vem cá, me abraça, eu te amo tanto!

Era bonito de se ouvir. Mas não se sentia a mesma sinceridade de quando, tempos atrás, ele pronunciara essas mesmas palavras embriagado pelo whiskey. Era como se ele tentasse contornar todos os problemas sempre da mesma forma. Previsível.
- Se fosse como daquela vez, agora eu tacaria aquele copo de whiskey na sua cara. Para de dizer isso em vão. Para de me iludir e me jogar na sua teia!
- Neguinha, não fala assim. Eu te amo de verdade, você sabe! O mundo inteiro sabe! É só você lembrar de tudo que já passamos, todas as alegrias, beijos, abraços, todas as vezes que nós nos amamos...

Pior era ela escutar aquelas palavras sabendo que se trairia a qualquer momento. Desejou ir para a cama com o primeiro que lhe escrevesse um poema sujo num guardanapo na tentativa de se livrar do que sentia por ele. Era ódio-amor-ódio-amor-ódio, assim, tudo junto, misturado e ao mesmo tempo.
Chorou.
Ele a abraçava como quem se agarra a uma última esperança, suas lágrimas também rolando livres rosto afora.
- Eu também te amo. Mas sai da minha vida pra eu poder me refazer.
E se foi. Mas deixou com ele um bilhete:
"Friends, lovers or nothing
There can only be one."

(John Mayer)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

E eu amo. E azar de quem vê. Azar de que sabe do que eu estou falando
Ainda bem que eu tenho minhas músicas e minhas poesias e a Jaya e todas as  minhas amigas.

E assim escrevo mais uma vez pra me exorcizar do medo de escrever sobre você

E olha, que já me disseram umas mil coisas e já me deram uma meia dúzia de notícias.
E olha, fico te amando, assim, uma mil horas direto. Depois te odeio mais umas mil vezes.
E tipos, I'm on your back.

Odeio te seguir.

 São umas coisas que não tem leis ou mandamentos ou respeito que possam dizer o que deve ser feito. É amor. É uma porra de um amor que deveria ter ficado numa hipótese. Numa página arrancada de um caderno qualquer. Numa página de caderno manchada qualquer.
Mas calma. Não é aquele amor grudado e impaciente. É um amor colorido, desarmado e despretensioso.
E sabe, paciência.. Paciência por quem vai entender ou não.  Entenda que tem amor, tem tesão, tem aquelas coisa carnais de quem se quer nos absurdos. Mas, sabe, cansei de guardar sentimentos pra quem sabe lá vai se importar. Ou vale, vai saber. Eu só sei do amor.  E que amor é  o tipo da coisa mais complicada, e que toma tempo, e toma palavra e toma o que for da carne de quem quer.

Querer amar é o que há de mais bonito e simples e sublime no que poderia ser apenas um carnaval.
E o que há de mal em encontrar beleza num carnaval -  principalmente quando se que recontar uma história. E reviver. E, olha, azar de quem quiser falar bobagem e quiser falar do que não lhe disser respeito. Eu sou. Nós somos.
E não tenho a menor vontade de não sermos. Não sê- los. Não temos a obrigação de nos adaptarmos numa ou noutra noitada que  nos agrade o ego . E ainda bem que temos táxis, ônibus, metrô e a putaquepariu. Ainda bem que temos intimidade suficiente para irmos fodidos encontrar a música nos nossos amigos. Ainda bem que temos a nós mesmos pra nos abraçarmos e dizer (saber) que nos amamos e que podemos nos misturar.

Que se foda o que foi capaz de se infiltrar até mesmo no coração mais puro pra se fazer bem no carnaval.


LOVE NEVER ENDS.