quinta-feira, 8 de julho de 2010

Eles.

Ele ia dizendo que não podia mais, que havia outra, que continuaria amando-a da mesma forma, enquanto ela bebia avidamente inúmeros copos de chopp. "Preciso de algo mais forte", pensou, e enquanto ele a olhava pedindo compreensão ela levantou o braço e disse:
- Juvenal, um whisky duplo sem gelo, por favor.

Depois de um demorado gole de coragem, olhou nos olhos dele, engoliu uma lágrima, respirou fundo e pediu:
- Só não me apague dos seus olhos. Sei que você nunca foi meu e nem eu de você, mas sempre que eu te olhar eu quero me encontrar.

Ele, no entanto, não conseguiu engolir suas lágrimas. Repetiu que a amava e que o que eles viveram era para sempre. "Você não me respondeu", ela disparou. Ele pegou suas mãos e disse:
- Enquanto eu me encontrar nos seus olhos, jamais vou te apagar dos meus. Enquanto nós existirmos vamos nos amar da mesma forma que nos amamos desde o primeiro olhar.

Ficou muda. Não parava de olhar nos olhos dele e pensar, na velocidade da luz: por que ele piora o que já é difícil? Vai, me leva com você e esquece dessa conversa, enquanto, à meia-luz, tocava aquela música que diz "invento artifícios pra nunca te perder" e os dois, juntos, completavam:
-"Eu não vou te perder".

Sorriram e ela pediu mais um whisky. Os dois viam seus sentidos lhe trairem, tamanha embriaguez. Marina Lima começou "Não quero sugar todo seu leite..." - era a música deles! - e ela não se conteve:
- Vem, dança comigo.

Ele acatou e a tomou nos braços. Doía sentir o toque dele, mas o álcool a anestesiara e ela só queria que aquilo durasse para sempre. Mais uma vez juntos, entoaram:
- "Seu corpo combina com meu jeito, nós dois fomos feitos muito pra nós dois".

E se entregaram ao fogo que lhes queimara tantas vezes. Era a última noite.

5 comentários:

Priscila Rôde disse...

Talvez a melhor!

Obrigada pelo comentário, Flor.


Um beijo.

Janaína S. disse...

Nossa. Não sei o que dizer.
É tão vivo, tão real.
a última vez com gosto de adeus, de até outro dia, quem sabe.

Ah, isso dói muito.

Anônimo disse...

Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Fabrício e cheguei até vc através do Blog do Mar Íntimo. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir meu blog Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. Estou me aprimorando, e com os comentários sinceros posso me nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs



Narroterapia:

Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.


Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.


Abraços

http://narroterapia.blogspot.com/

Jaya Magalhães disse...

Luuuuuuuuuuuuuuud do Céu!

Que que foi esse texto? Hein? QUEM MANDOU VOCÊ FAZER ELE CURTINHO ASSIM? Que raiva de você, por isso. Mal comecei a ler, e quando já me via lá, claro, com personagens opostos, o texto acabou. ¬¬

Reclamações histéricas a parte, preciso dizer que amei isso daí. Tem uma frase de García Márquez que diz assim, acho: "o amor é amor em qualquer tempo, mas tanto mais denso quanto mais perto da morte".

Foi o que pensei, te lendo. Se não fossem as circunstâncias, talvez não tivesse sido tão lindo.

Um beijo, frô.

Camii •εïз• disse...

Senti.