Ele ia dizendo que não podia mais, que havia outra, que continuaria amando-a da mesma forma, enquanto ela bebia avidamente inúmeros copos de chopp. "Preciso de algo mais forte", pensou, e enquanto ele a olhava pedindo compreensão ela levantou o braço e disse:
- Juvenal, um whisky duplo sem gelo, por favor.
Depois de um demorado gole de coragem, olhou nos olhos dele, engoliu uma lágrima, respirou fundo e pediu:
- Só não me apague dos seus olhos. Sei que você nunca foi meu e nem eu de você, mas sempre que eu te olhar eu quero me encontrar.
Ele, no entanto, não conseguiu engolir suas lágrimas. Repetiu que a amava e que o que eles viveram era para sempre. "Você não me respondeu", ela disparou. Ele pegou suas mãos e disse:
- Enquanto eu me encontrar nos seus olhos, jamais vou te apagar dos meus. Enquanto nós existirmos vamos nos amar da mesma forma que nos amamos desde o primeiro olhar.
Ficou muda. Não parava de olhar nos olhos dele e pensar, na velocidade da luz: por que ele piora o que já é difícil? Vai, me leva com você e esquece dessa conversa, enquanto, à meia-luz, tocava aquela música que diz "invento artifícios pra nunca te perder" e os dois, juntos, completavam:
-"Eu não vou te perder".
Sorriram e ela pediu mais um whisky. Os dois viam seus sentidos lhe trairem, tamanha embriaguez. Marina Lima começou "Não quero sugar todo seu leite..." - era a música deles! - e ela não se conteve:
- Vem, dança comigo.
Ele acatou e a tomou nos braços. Doía sentir o toque dele, mas o álcool a anestesiara e ela só queria que aquilo durasse para sempre. Mais uma vez juntos, entoaram:
- "Seu corpo combina com meu jeito, nós dois fomos feitos muito pra nós dois".
E se entregaram ao fogo que lhes queimara tantas vezes. Era a última noite.
5 comentários:
Talvez a melhor!
Obrigada pelo comentário, Flor.
Um beijo.
Nossa. Não sei o que dizer.
É tão vivo, tão real.
a última vez com gosto de adeus, de até outro dia, quem sabe.
Ah, isso dói muito.
Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Fabrício e cheguei até vc através do Blog do Mar Íntimo. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir meu blog Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. Estou me aprimorando, e com os comentários sinceros posso me nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs
Narroterapia:
Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.
Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.
Abraços
http://narroterapia.blogspot.com/
Luuuuuuuuuuuuuuud do Céu!
Que que foi esse texto? Hein? QUEM MANDOU VOCÊ FAZER ELE CURTINHO ASSIM? Que raiva de você, por isso. Mal comecei a ler, e quando já me via lá, claro, com personagens opostos, o texto acabou. ¬¬
Reclamações histéricas a parte, preciso dizer que amei isso daí. Tem uma frase de García Márquez que diz assim, acho: "o amor é amor em qualquer tempo, mas tanto mais denso quanto mais perto da morte".
Foi o que pensei, te lendo. Se não fossem as circunstâncias, talvez não tivesse sido tão lindo.
Um beijo, frô.
Senti.
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